terça-feira, 16 de outubro de 2012

Dislexia

 

10 de outubro

Dia Mundial da Dislexia

Dia 10 de outubro  “comemora-se” o dia mundial da dislexia. Embora, eu insisto, ainda estejamos muitos distantes de comemorar alguma coisa, até porque quem tem mais de quinze anos fica por aí, a ver navios, hoje eu quero sim comemorar.
Mesmo que eu tenha passado por umas dez psicopedagogas (palavra super fácil pra um disléxico escrever), e que elas tenham me dado atividades condizentes com as minhas dificuldades e com a minha idade, como por exemplo completar jogos da Galinha Pintadinha, eu superei muita coisa. O post hoje é destinado aos DIS de todo país, preferencialmente aos mais velhos, porque os mais novos têm um monte de coisinhas coloridas e bonitinhas pra ajudá-los. Como o foco do meu blog é o humor através das minhas próprias vivências, aí vão 10 Dicas safadas para um disléxico:

1- COISEAR:
Sabe aquele momento tenso, em que tudo que você não precisa lembrar você lembra, e uma única e maldita palavra fundamental sai por aí vagando, pra bem longe de você? Pois bem: use coisa. Coisa é coisa de Deus. Coisa é a solução. Coisa se adapta a tudo. Na semana passada eu dei uma palestra, e cada vez que alguma coisa me escapava, eu usava COISA! Que coisa, como as pessoas gostaram disso!

2- SE-PA-RE:
Eu tenho um problema enorme para escrever in-crí-vel. Esta palavra maldita me dá desespero. Mas quando eu penso nela assim, separada, fica bem mais fácil. Isso acontece com um monte de outras palavras, como in-te-li-gen-te, de-li-cia, hor-rí-vel. Aí, quando as pessoas lerem algo escrito por você com uma palavra se-pa-ra-da, vão pensar que você é muito inteligente, e que escreve assim pra dar ênfase em algo. Qualquer coisa use a licença poética.

3- LICENÇA POÉTICA:
Alguém que escrevia muito mal criou a licença poética, uma forma de proteger qualquer escritor das críticas de erros gráficos e de concordância. Por exemplo, ninguém mais acha feio escrever Estória, ao invés de História. Dizem que tem diferença, mas sabe Deus se existe mesmo. Logo, sinta-se um poeta contemporâneo, e use seus direitos da licença poética.

4- PONHA VÍRGULAS NOS RESULTADOS MATEMÁTICOS:
Matemática é, de fato, o meu pesadelo real. Putamerda, como eu me sinto mal tendo que lidar com números. Quando o professor é foda e não me permite fazer algum trabalho alternativo, e eu tenho que fazer cálculos, meus resultados sempre são algo como 2323994,200023 porque se eu tentasse um número normal, inevitavelmente pareceria que eu fiz um cálculo errado, mas com a vírgula o professor ainda fica com um pouco mais de pena e pergunta “Nossa, Alberto! Como você conseguiu chegar neste resultado?”. Aí é só você colocar raiz quadrada, porcentagem, vezes, diminuir por três vírgula catorze, e pronto: eles adoram…

5- DEMONSTRE SEU PAVOR:
Ei ei ei, não adianta nada fazer cara de natureza morta, se por dentro você está mais desesperado que o padre exorcista de Emilly Rose.  Não rola. Não tenha vergonha de demonstrar seu medo, porque todo mundo tem medo de alguma coisa, seja do escuro, ou do fisco. Mostrar ter coragem, calma, paciencia, não faz de ninguém melhor. Ao contrário, só esconde suas necessidades dos outros.


6- LEMBRE QUE “ISTO” ACABARÁ:
Saiba sempre que durante a faculdade você depende de um monte de professores, e que pra sair de lá terá que levar muita bolada na cara. Você vai sofrer, sim. E vai encontrar muita intolerancia. Mas daqui a pouco isto acabará, e você quando sair pela porta da frente, vai fazer exatamente o que quer, no seu ritmo, se respeitando muito mais. Por isso pense sempre que você é capaz, e que ninguém na sua faculdade tem direito de dizer o contrário.

7- ANOTE ATÉ O ESPIRRO DOS PROFESSORES:
Eu tenho TDAH e enquanto estou em aula mexo na internet, escrevo no meu blog, faço desenhos no meu caderno, monto aviões de caneta, e anoto tudo, tudo, tudo, tudo que o professor diz. Mesmo que depois nem eu consiga entender. É incrível como isso tem me ajudado. Tenho três cadernos, sendo um para coisas sérias e chatas, outro pra rabiscar e outro pra pirar o cabeção, e escrever tudo que discordo durante as aulas. Criei símbolos que me ajudam a poupar tempo, como um ponto de exclamação mucho doido, que significa “muuuuuito importante”; um livrinho, que significa que no livro tal deve ter esta informação bem mais fácil; um solzinho, que significa “devo estudar pra amanhã, porque senão não vou entender bulhufas disto.” Canetas coloridas e adesivos mimosos também me ajudam a não deixar o estudo tãaaãaããão chato.

8- PEÇA PRA TRADUZIR:
Machado de Assis, que não tem nada a ver com a Maria Machadão de Gabriela que me perdoe, mas ele é um mala. “Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca?” Olhos de ressaca pra mim significa dia-seguinte-de-carnaval. Mas não é. Tem gente que é mala pra escrever, que acha chique falar difícil. Aprenda a não ter vergonha de pedir pra traduzirem. Alguma coisa está errada em sermos obrigados a ler coisas complexas em um tempo em que nós escrevemos coisas como “e ai blz td bem c vc o q vai fz no fds?”

9- CRIE NOMES:
Eu não lembro nunca da palavra EDREDOM. Quando lembro, falo dredrão, edredrom, ededrão… E por aí vai. Simples assim: agora ele se chama Juca, e é muito fácil. Nome de porteiro também é algo difícil de lembrar, e eu aprendi a chamá-los assim: Oi seu tzhhwydh como vai? É só falar muito rápido o nome que o cara nem vai perceber se o nome estava certo. Por fim, tenho uma enorme dificuldade de lembrar o nome dos meus amigos, inclusive os melhores. Então percebi que se eu criasse nomes pra eles, não apelidos, mas nomes mesmo, tudo ficaria bem mais fácil. A Carolina se chama Simone, a Rafaela se chama Silvana (eu acho), a Emanuele se chama Elton…

10- OLHE PARA O INFINITO:
Quando alguém estiver falando alguma coisa muito chata, ou que você não consegue entender de forma alguma, ou que você não concorda, olhe para o infinito. Enxergue em sua frente um ponto imaginário e fixe seus olhos nele, preferencialmente com um sorrisinho estranho no rosto. Isso é altamente relaxante, e já que você não está conseguindo uma conexão dial-up com a pessoa, faça esta conexão cair, bem simples!
Feliz dia pra nós, DESLÉQSOS.

Beto Portugal - Diário de um disléxico - 

 http://diariodeumdislexico.albertoportugal.com.br/?p=582

Nenhum comentário:

Postar um comentário